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A anorexia nervosa na adolescência.

  • amhs00
  • 26 de ago. de 2015
  • 3 min de leitura

anorexia adolescência

Transtornos do comportamento alimentar são alterações sérias que podem desencadear quadros graves e fatais. São resultantes da associação de influências biológicas, psicológicas e sociais. "O número de casos é subestimado pelo fato de só os quadros graves chegarem às equipes multidisciplinares", afirma Dr. Tadeu Franconieri, gastroenterologista do Hospital Samaritano. Nos paciente com anorexia nervosa, nota-se a preocupação obsessiva com os alimentos, uma luta contra a fome para atingir uma meta almejada de magreza, padrões alimentares bizarros e perda de peso mediante restrição dietética e exercícios. Além disso, 50% recorrem ao vômito auto induzido ou ao uso de laxantes para emagrecer.

A anorexia nervosa é um distúrbio crônico caracterizado por perda de peso auto induzida (auto imposta) e mantida pelo paciente. Psicologicamente, está associada ao distúrbio da imagem corporal – a pessoa acha que está gorda demais, ou seja, superestima a largura de seu corpo. Biologicamente, ocorrem alterações fisiológicas, como amenorréia e depleção nutricional severa, e as proeminências ósseas ficam bem visíveis.

Segundo Dr. Franconieri, a incidência da doença é de cinco entre 10 mil pessoas, ou um em cada 250 estudantes adolescentes (escolas particulares) – 95% mulheres e 5% homens. A anorexia nervosa atinge principalmente mulheres brancas com bom poder aquisitivo, no início da puberdade e da adolescência.

Fatores sócio-culturais, psicológicos e biológicos estão relacionados à anorexia nervosa. “O ideal cultural feminino deslocou-se de formas arredondadas para uma mulher mais esguia, que representa maior independência, personalidade e sucesso”, observa o gastroenterologista. Mulheres magras predominam nos horários nobres da televisão, nos concursos de beleza e como modelos da alta costura. Além disso, existe a pressão social de colegas para o comportamento anorético das adolescentes. “Esses fatores não são suficientes para o desenvolvimento, mas criam um ambiente adequado para a expressão da anorexia nervosa em indivíduos predispostos”, diz. Estudos recentes indicam ainda a associação ao abuso sexual na infância.

Entre os fatores psicológicos, destacam-se a identidade pessoal incompletamente desenvolvida, o fato de pertencer a famílias que valorizam a aparência em detrimento da harmonização da própria personalidade, a atenção às expectativas dos pais e o anseio em agradá-los, que desencadeia uma batalha obsessiva para conseguir aprovação. “A obsessão alimentar corresponde a uma tentativa desesperada de controlar o próprio corpo em um ambiente novo e perturbador”.

São fatores biológicos ligados à anorexia o peso maior ao nascer e a obesidade, que precedem a instalação da doença. Alterações na saciedade e na regulação da temperatura e lesão hipotalâmica (alteração de neurotransmissores endócrinos ou imunológicos) levariam a alterações fisiológicas e comportamentais da anorexia nervosa.

O risco da doença é 6% maior entre irmãos, e de quatro a cinco vezes mais elevado entre gêmeos monozigóticos, o que sugere predisposição genética. Dr. Franconieri ressalta que a anorexia nervosa leva a diversas alterações endócrinas, hematológicas, gastrointestinais, de tireoide, suprarrenal e a anormalidades cardiovasculares.

Aspectos que permitem o diagnóstico da doença:

  • Recusa em manter o peso acima do mínimo para a idade.

  • Medo do ganho de peso ou de se tornar gordo (mesmo com baixo peso).

  • Perturbação no modo de vivenciar o corpo (peso, tamanho ou forma).

  • Em mulheres, ausência de pelo menos três ciclos menstruais consecutivos.

  • Alterações hidroeletrolíticas (síndrome de realimentação).

  • Anamnese alimentar (histórico alimentar do paciente).

  • Desnutrição moderada (peso de 65% a 80% do ideal) ou grave (peso menor que 65% do ideal).

  • Alterações antropométricas e imunológicas.

  • Perda acentuada de gordura.

Para o diagnóstico diferencial, levam-se em conta:

  • Depressão na infância e na adolescência.

  • Doenças gastrintestinais que levam à desnutrição.

  • Fobias alimentares.

  • Esquizofrenias (padrões bizarros na alimentação).

  • Estados maníacos.

  • Tumores cerebrais.

  • Distúrbios hormonais (hipófise, paratireóide, supra-renal).

  • Diabetes juvenil.

  • Hipotireoidismo.

  • Neoplasias.

  • Doenças inflamatórias, tuberculose.

Tratamento multidisciplinar:

O tratamento da anorexia nervosa é multidisciplinar e deve ser acompanhado por profissionais. Envolve obtenção de aumento de peso do paciente, tratamento dos sintomas psicológicos associados, orientação familiar, manutenção permanente da melhora obtida, internação somente em casos graves, correção e reabilitação nutricional, psicoterapia – criar clima de confiança, sem atitudes dominadoras ou coercivas –, uso de técnicas comportamentais e cognitivas. A utilização de psicofármacos tem resultados incertos. “É importante a criação de um vínculo sólido entre o paciente, a equipe multidisciplinar e a família”, destaca dr. Franconieri.

A recuperação nutricional ocorre em 35% a 88% dos casos, e 22% dos indivíduos com anorexia nervosa morrem, geralmente por inanição e distúrbios eletrolíticos.

 
 
 

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